epidemia
Até 2014, o mosquito Aedes Aegypti era conhecido apenas por transmitir os vírus da dengue. Pouco se falava de outras enfermidades. Durante esses três anos, o quadro mudou. Sugiram o Zika vírus e Febre Chikungunya. Entretanto, para o infectologista e mestre em doenças tropicais, Rômulo Sabóia, Fortaleza e outras cidades brasileiras estão suscetíveis a outra epidemia: a Febre Amarela Urbana.
Segundo o especialista, o fato de estarmos acompanhando casos de Febre Amarela Silvestre em Minas Gerais torna vulnerável outras regiões. “No momento em que um cearense for para o Pará ou para Minas Gerais (regiões acometidas) e pegar uma febre amarela silvestre e ao chegar em Fortaleza for picado pelo Aedes Aegypti, vamos ter uma epidemia explosiva de febre amarela urbana que tem uma taxa de letalidade 50%”, explica.
A principal diferença entre esses dois tipos da doença é a forma de transmissão, pois o vírus e seus sintomas continuam os mesmos. A primeira é transmitida pelo mosquito Haemagogus e o Sabethes atuam em áreas silvestres, enquanto o segundo é causada pelo mosquito Aedes Aegypti de característica urbana. Para Rômulo, o que impede o surgimento de casos é a vacina contra a doença.
“Nós estamos vivendo uma epidemia de febre amarela silvestre em uma área infestada pelo Aedes Aegypti. A grande sorte nesses 30 anos é que esses os dois ciclos ainda (ciclo do transmissor silvestre e o urbano) não se encontraram. A vacina bloqueia a circulação do vírus”, aponta.
O mestre em doenças tropicais acrescenta que, apesar dos dois transmissores serem de regiões diferentes, há um tipo de Aedes Aegypti que pode ser a ponte entre o ambiente silvestre e o urbano. “O Aedes Albopictus é meio urbano e meio rural. É ele que pode trazer a febre amarela para a cidade e o aedes Aegypti poderá se contaminar”, argumenta.
Além disso, Rômulo explica que há um grupo que não pode ser vacinado contra a febre amarela devido ao risco de contrair a doença e morrer por febre amarela vacinal, como pessoas maiores de 60 anos, pacientes com Aids, transplantados entre outros. Sem contar da parcela de brasileiros que moram em áreas não endêmicas, que não foram vacinados. “A vacina é de qualidade ruim porque é de um vírus vivo atenuado e que pode dar reação. Mata um em um milhão”, alega.
Apesar dos argumentos, há quem discorde de Rômulo. O biólogo e doutor em saúde pública, Carlos Alencar, é um deles. O especialista alega que as condições da cidade de Fortaleza, por exemplo, não propiciam a transmissão da doença e o mosquito está adaptado a outros vírus. “Fortaleza não é área de risco da febre amarela. Teríamos que ter uma transmissão de febre amarela silvestre muito grande para termos uma urbana”, afirma.
Segundo o biólogo, o mosquito que poderia fazer a ponte entre a febre amarela rural e a urbana está mais concentrado nas áreas verdes. “Não temos uma concentração grande Sabethes em Fortaleza nem temos incidência de febre amarela em Fortaleza. Caso tenha alguém com a doença, essa pessoa irá ficar isolada para que o aedes aegypti não tenha contato com o paciente. Teríamos uma ação efetiva da vigilância”, descarta a possibilidade.
O coordenador do programa de Pós-Graduação em microbiologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Flávio Guimarães, por sua vez, aponta que o Brasil não apresenta as condições necessárias para a ocorrência de um surto de febre amarela urbana. Segundo ele, é preciso que o vírus comece a circular entre os transmissores de característica urbana e ter uma cobertura vacinal baixa.
"A cobertura vacinal, apesar de ter suas falhas, é considerada boa. A prova disso aconteceu nesse último surto quando, apesar de sua magnitude, não se transformou em uma epidemia urbana", acrescentou. Além disso, Flávio ressalta que o risco de sermos vítimas de um surto de Febre Amarela sempre vai ocorrer no Brasil, pois o "reservatório" do vírus é animais silvestres, como os macacos.
Ao contrário da visão de Rômulo, Flávio ressalta que a vacina contra a doença é de boa qualidade em vista que foi a responsável pela erradicação da febre amarela urbana no País e no mundo mesmo com suas limitações, contra-indicações e riscos intrínsecos. "Os benefícios da vacina são incrivelmente superiores aos riscos, principalmente, em regiões endêmicas", ressalta.
Apesar dos rumores sobre a possibilidade da febre amarela urbana ser a próxima epidemia, o governo federal havia descartado em 2014 a circulação do vírus da Chikungunya no País. Em uma matéria no site UOL da época, o ex secretário de vigilância em saúde do Ministério da Saúde, Jarbas Barbosa, afirmou que os casos da doença no Brasil eram importados, o que descartaria uma possível epidemia. Na época, 20 pessoas estavam acometidas pela doença no País. Dois anos depois o cenário foi outro. O Brasil registrou 271.824 mil casos confirmados, segundo o Ministério da Saúde.