epidemia
"Desde o início desse ano, tive uma redução grande no número de alunos”, relata Roberto Carreira, personal trainer e proprietário da academia Premium, no bairro Parquelândia. A redução no número de matrícula ou afastamento de aluno por conta da Febre da Chikungunya está implicando diretamente na sua movimentação financeira por conta de queda de receita.
Isso deve-se a venda de planos semestrais com mensalidades de R$ 115 que dá direito a fazer musculação, atividades aeróbicas, natação, dança entre outras modalidades. Quando um aluno fica doente e apresenta um atestado justificando o afastamento, a academia repõem os dias ausentes no fim do plano, retardando a renovação do contrato.
“Muita gente, no ano passado para cá, entregou atestados por diversos motivos, como fratura ou algo semelhante, mas a causa principal desses casos era a chikungunya. As licenças tinham em média de 30 dias porque o paciente fica impossibilitado de fazer qualquer atividade”, afirmou.
Ele afirma que não sabe dizer ao certo quanto a epidemia afetou os negócios e quantos alunos ficaram ausentes das atividades por conta da doença, mas acredita que o número seja significativo. “Eu vendia 30 planos por mês no ano passado. Eu estou vendendo muito menos neste ano. As pessoas estão doentes. Eu costumo andar a pé pelo bairro e a impressão é que em cada casa tem alguém doente”, alega.
Ao contrário das outras doenças transmitidas pelo mosquito Aedes Aegypti, a Febre de Chikungunya causa dores nas articulações que podem durar meses. Essa consequências impedem o retorno total dos alunos às atividades e o trabalho dos professores. “Alguns alunos, relataram não ter força para levantar pela manhã e tiveram que tomar remédio”, cita.
Mas não foram só os alunos que contraíram a febre, Roberto e mais dois professores também foram vítimas dessa epidemia. Diferente dos alunos, eles não puderam se ausentar por mais de 15 dias para voltar às atividades. Para ir ao trabalho, necessitaram de remédios para aliviar as dores nas articulações.
“Eu e mais dois professores pegamos a doença. Mas, quando se trata de professores, a gente se vira. Teve um dia que eu precisei sair mais cedo do trabalho. E a gente ia trabalhar a base de remédio. Eu tomava dipirona, nas crises febris, e paracetamol”,explica como conseguiu driblar os efeitos da doença. Mas, Roberto ainda não conseguiu voltar aos treinos de Crossfit.
O motivo para o impacto significativo nesta academia deve-se a região em que está localizada. Segundo o Sistema de Monitoramento Diário de Agravos da Prefeitura de Fortaleza (SIMDA), a Parquelândia (Regional III) tem apresentado uma taxa de incidência de 2.749 casos por 100 mil habitantes, uma das maiores da cidade.
Em outro ponto de Fortaleza, uma escola particular também teve que lidar com as consequência da epidemia. Alguns professores do colégio Integral, localizado na Aldeota, foram acometidos pela febre. Dos 33 professores que trabalham na instituição, quatro contraíram a doença. Apesar do número corresponder pouco mais de 10% da equipe docente, a escola teve que encontrar alternativas para não deixar os alunos sem aula.
“É um prejuízo porque deixa uma lacuna mesmo colocando outro professor. Os casos aconteceram quase ao mesmo tempo. Uma professora teve chikungunya e, de vez em quando, o pé dela fica inchado”, diz a diretora do colégio Maria Jesilda Vaz.
A responsabilidade e o compromisso com as atividades escolares não permitiram que os professores se afastassem por muito tempo da sala de aula. Mesmo sentindo alguns sintomas, os educadores buscavam uma forma de ir dar aula. Mas quando não era possível ir ao trabalho, a coordenação buscavam remanejar outros funcionários para substituí-los nas salas de aula. “A gente tenta substituir por professores ou os próprios coordenadores preenchiam a lacuna quando tinham condições de dar continuidade ao conteúdo”, explica.
As epidemias causadas pelo mosquito Aedes Aegypti em Fortaleza têm ocasionados mais gastos com saúde. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), por conta dos inúmeros casos na cidade, o município tem investido mais no setor para a realização das campanhas, programas e ações de prevenção e combate ao Aedes Aegypti. A pasta não soube informar o valor.
Na visão do infectologista e mestre em Medicina Tropical Rômulo Sabóia, devido a ausência de medidas eficazes pelo município a população paga caro por isso. “O preço da epidemia é incomensurável. Se você computar todos os custos do doente, do paciente que fica hospitalizado, os dias de trabalho perdido, das consultas, dos exames. Se juntar todos esses gastos de uma epidemia, é um valor brutal”, explica.
Rômulo ressalta que a relação da má aplicação do orçamento da saúde implica no surgimento dessas epidemias. O motivo deve-se a ausência de serviço de saneamento básico ideal para a estrutura de Fortaleza. “A gente já paga para ter um bom serviço de saneamento básico, mas nem sempre é usado de forma correta. A gente paga impostos para ter um serviço que não temos e por não termos esse serviço ficamos mais predisposto a infecções”, critica o especialista.
Em junho de 2017, o governo do Estado do Ceará lançou a campanha "Todos Contra o Mosquito". Por meio dela, foi liberado um recurso de R$ 10 milhões para os municípios com os melhores resultados no combate à Dengue, Zika, Chikungunya.
No começo de 2016, o governo Federal anunciou a aplicação de R$ 649 milhões em ações de combate ao Aedes aegypti e às doenças transmitidas pelo mosquito. Em outubro de 2016, o Ministério da Saúde comprou 3,5 milhões de testes rápidos para zika vírus, num total de R$ 119 milhões invstidos para a compra.
Porém, mesmo com as altas cifras, postos de saúde e hospitais públicos vivem no limite. Anastácio Queiroz, médico infectologista e ex-secretário de Saúde do Estado, explica que quando há a sobrecarga de um lado, outras áreas acabam sendo atingidas. “Não digo que os recursos são usados de maneira inadequada, mas sabemos que é limitado. Quando há um aumento de recursos naquela área, você acaba reduzindo em outra”.
O médico e também ex-secretário de Saúde do Estado Carlile Lavor conta que não sabe calcular a sobrecarga econômica na saúde diante de uma epidemia como a de Chikungunya, “mas sei que é gasto muito dinheiro”. “Gasta-se com larvicidas, inseticidas, agente de endemias, e além disso o tratamento. Esses gastos têm pelo menos 30 anos, mas temos que rever como tem sido feito, pois não tem dado jeito”, completa.
A Câmara de Dirigentes Lojistas de Fortaleza (CDL) teve que promover um evento para falar sobre as ações de prevenção e combate ao mosquito. As empresas associadas comentaram do número de funcionários afetados pela febre. A coordenadora e professora da Faculdade CDL, Meirijane Anastácio, conta que a instituição teve a ideia de fazer um evento destinado para o setor de Recursos Humanos sobre o Aedes Aegypti. O evento ocorreu no dia 7 de Junho deste ano e atraiu cerca de 50 empresas associadas.
“Diante do quadro alarmante e dos depoimentos de tantos diretores que estavam com os seus resultados afetados, a gente resolveu fazer um “Rh em ação” com o tema Chikungunya. Para falar sobre o assunto, trouxemos o Dr. Nélio Moraes , coordenador da Coordenadoria de Vigilância à Saúde. Compareceram representantes de várias empresas, como escritórios de contabilidade, e até síndico de condomínio”, contou.
A professora contou que houve um caso de um pequena empresa associada à CDL que teve 50% do quadro de funcionários acometido pela doença. Para orientar e ajudar os associados, o evento buscou viabilizar apresentar a melhor solução para essas casos: a prevenção. “A gente procurou trazer informações de como prevenir e também da pessoa, que adquiriu, como deveria se tratar, conforme as orientações dos especialistas”, conclui.
Os inúmeros casos de chikungunya no bairro da Parquelândia afetaram os negócios de Roberto Carreira. Fernando Santos, educador físico da academia Premium, além de Roberto, também foi acometido pela doença e ainda sofre com dores nas articulações (FOTO: Larissa Pacheco/Especial Epidemia)
“O custo da prevenção é menor do que o combate à epidemia”
Ação de conscientização
impactos na saúde e na economia
"A gente paga impostos para ter um serviço que não temos e por não termos esse serviço ficamos mais predisposto a infecções"
Apesar do baixo número de professores acometidos pela Chikungunya, o Colégio Integral teve dificuldades para substituir os profissionais doentes para não atrapalhar as atividades escolares
(FOTO: Larissa Pacheco/Especial Epidemia)